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22 April 2014

perto da minha casa (2013)


Um comentário a respeito de Perto da minha casa, curta-metragem de Carolini Covre e Diego Locatelli, exibido na IX Mostra Produção Independente, promovida pela Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas - ABD do Espírito Santo.

As primeiras imagens mostram edifícios amontoados uns atrás dos outros, paisagem comum a várias grandes cidades brasileiras. São caixotes de concreto em tons de cinza, formando uma geometria fria. Nessas imagens, as cores do filme são também pálidas e desbotadas. O horizonte natural parece perdido, soterrado pelas janelas sobrepostas, os para-raios...

Quando a câmera alcança as ruas, começa lentamente a introduzir o universo de uma periferia urbana, em um bairro de Vila Velha, no Espírito Santo. Um local sem opções de lazer, o que pode explicar a ideia central do filme: um grupo de adolescentes que resolve transformar um depósito de contêineres em local de encontro.

Sobre os imensos caixotes de metal, eles brincam, pulando de um para outro. O filme aproveita o som surdo e abafado dos corpos pisando sobre os contêineres para criar um ritmo, uma ambiência sonora. As imagens são cuidadosamente enquadradas, aproveitando os "vazios", deslocando seu objeto para as margens do quadro - como os próprios personagens, de certa maneira, se encontra "à margem" do espaço urbano. Há algo em Perto da minha casa que remete ao cinema de Michelangelo Antonioni: a presença da arquitetura e do espaço urbano ajudam a definir um sentido geral.

É esse ambiente que condiciona as ações dos garotos e as imagens do filme. Essa opção por colocar o espaço como protagonista e os jovens como "coadjuvantes", confere força às imagens de Perto da minha casa. Os depoimentos, em que os adolescentes são enquadrados de maneira mais próxima, ganhando mais identidade, misturam-se a imagens de conjunto, em que essa identidade recém-conquistada se perde novamente no anonimato do grupo, da turma que, durante uma cena, caminha pela rua asfaltada, desvia de um carro; gritam uns com os outros, os contêineres no fundo da imagem, separados da rua por uma cerca.

A ideia de confinamento, de reinvenção do espaço público, de perda da identidade, de pequena contravenção (ninguém sabe se é ou não proibido estar ali, ninguém sabe de quem são aqueles contêineres, propriedade privada transformada em lugar público). Tudo isso se amalgama nas imagens e nos sons de Perto da minha casa.

As semelhanças entre o depósito de contêineres e um depósito de lixo ficam nas entrelinhas do filme. O que esses imensos caixotes transportaram? Para que e para quem serviram esses produtos? À parte desse trânsito de mercadorias, os garotos parecem tentar subjugar sua condição periférica de maneira lúdica ao reinterpretarem o sentido quase opressor dessas caixas de metal que ecoam as caixas de concreto que formam a cidade grande.

Perto da minha casa
(documentário, 2013, 16 min.)
de Carolini Covre e Diego Locatelli

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