Não sem algum constrangimento, o autor do blog deve admitir que, até agora, assistiu a apenas metade dos concorrentes a melhor filme na premiação do Oscar. Eis algumas breves impressões:
american hustle (2013)
As 10 indicações ao Oscar (com todos os defeitos e idiossincrasias do prêmio) demonstram que O. Russell - um diretor irregular, que teve talvez seu maior momento com (O lutador, ) - tornou-se uma espécie de "queridinho" da indústria norte-americana. O final redentor de Trapaça, com direito a uma "segunda chance" para os protagonistas, reduz o já fraco impacto do filme. Resta a brilhante performance de Jennifer Lawrence... Parafraseando a Norma Desmond de Sunset Boulevard, "Lawrence é grande; o filme é que é pequeno".
Aqui, o texto de José Geraldo Couto sobre Trapaça.
gravity (2013)
her (2013)
Os atores, novamente, excepcionais (sem eles, a frieza seria completa): Joaquim Phoenix e Scarlett Johansson (que consegue, apenas com a voz, criar a personalidade do sistema operacional pelo qual o protagonista se apaixona).
Aqui, o texto de José Geraldo Couto.
Aqui, uma crônica de Contardo Calligaris sobre o filme.
Mas Alexander Payne (e o roteiro de Bob Nelson) conseguem por tudo a perder: o final é uma espécie de celebração do consumo, uma vingança através do acúmulo material. A felicidade ao alcance de alguns (milhares) de dólares. O cartão de crédito como deus ex machina.
Aqui, o texto de José Geraldo Couto.
the wolf of wall street (2013)
As recepções ao novo filme de Martin Scorsese parecem contraditórias e extremadas. Scorsese faz uma ode ao excesso. O apetite do cineasta por novas imagens para serem "devoradas" é semelhante ao apetite de seu protagonista para acumular dinheiro. Os vídeos de publicidade, o falso documentário de autopromoção, o depoimento em primeira pessoa... Tudo é fagocitado por Scorsese, em um filme que se torna quase monstruoso: longo, cheio de arestas, mas extremamente interessante. Thelma Schoonmaker não receber sequer uma indicação por melhor montagem prova a cegueira da Academy of Motion Picture Arts and Sciences. O filme de Scorsese é ambicioso e quase não cabe em si. É excessivo e exagerado como seu protagonista, é veloz e sem hesitações como uma viagem de montanha-russa ou um filme publicitário de 30 segundos, que dá seu recado sem ter tempo a perder... E o grande tema que sustenta O lobo de Wall Street talvez seja, exatamente, o tempo... O tempo recorde para ganhar (e perder) dinheiro; o tempo automático das transações financeiras na era da fantasmagoria econômica; a necessidade de cumprir um deadline (apenas negócios); o tempo acelerado da fala de DiCaprio; o tempo alterado das drogas. O tempo, a única coisa que o dinheiro (ainda) não pode comprar...
Aqui, o texto de José Geraldo Couto.
A cerimônia de entrega dos Oscars acontece no próximo domingo, 2 de março de 2014. Que vençam os melhores! (Acontecimento extremamente raro, em se tratando do Oscar.)
A imagem que ilustra este texto mostra Sacheen Littlefeather, indígena da tribo apache que, na cerimônia do Oscar de 1973, comunicou a um auditório perplexo a decisão do ator Marlon Brando em não aceitar o prêmio, concedido por sua interpretação de Vito Corleone em O poderoso chefão. Brando chamava a atenção da indústria cinematográfica para a maneira como os indígenas eram tratados e retratados, na sociedade como um todo e no cinema em particular.
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