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20 September 2013

jobs (2013)


O jornalismo cultural (a extensão publicitária da chamada "indústria cultural") adora listas: os melhores do ano, da década, os piores, os melhores por categoria, os "imperdíveis", a série de livros "1001 (...) antes de morrer" etc.

As assim chamadas "editorias de cultura" criaram a síntese perfeita entre a crítica ligeira e o bom e velho rol de compra de supermercado (sabão em pó, sabonete, pó de café, leite desnatado...).

Dito isso, Jobs (2013) talvez precisasse figurar entre os piores filmes do ano. Ou, por uma lógica reversa, entre os melhores. Porque são justamente os "defeitos" do filme de Joshua Michael Stern que denunciam sua relação com os clichês do discurso empresarial e com o imaginário do capitalismo contemporâneo.

Dentre esses clichês, destacam-se também os cinematográficos: um protagonista naturalmente "iluminado", que vai provar seu valor, crescer, sofrer um inferno pessoal somente para, depois, aprender alguma coisa e retornar, triunfante.

Os valores do self made man estão todos presentes: uma família "tradicionalmente americana" (outro clichê); uma garagem com os "amigos da vizinhança"; o desprezo pelo conhecimento estabelecido (na saída da universidade); o trabalho recompensado (bem como diversas operações moralmente questionáveis). Jobs é retratado como um "líder", um "visionário", um "empreendedor", termos vistos como positivos no vocabulário das pessoas sérias, de terno e gravata, que seguem religiosamente as cotações da bolsa de valores.

Alguns podem perguntar se o criador da Apple Computer não era realmente tudo isso. A resposta: era, e não era. Será óbvio e didático demais lembrar que nenhuma vida (em livros, filmes, peças de teatro) retrata a pessoa em questão, mas realiza uma seleção de eventos e uma interpretação? O Steven Paul Jobs do filme usa um discurso quase messiânico (do gênero "além da capacidade de outros homens, eu vi o futuro e agora pretendo mudar o mundo") para, de fato, trazer uma mensagem muito mais simples e concreta: tecnologia e design estão, desde o final dos anos 1980 (e Jobs foi um dos maiores responsáveis por isso) cada vez mais intimamente conectados. E, poderia-se adicionar, também cada vez mais intimamente conectados estão capitalismo e religião, com templos lembrando shopping centers e shopping centers lembrando tempos...

Na lógica estrita do capitalismo, não existem seres humanos, apenas "capital humano". Em outra palavra, números. Uma "visão empresarial" não compartilhada por um empregado pode gerar demissão (existe essa cena no filme). Mas, como todos sabem, talvez a grande "visão empresarial" do capitalismo seja uma só, tão óbvia que não precisa ser dita ou escrita: o empregado se submeterá aos desejos da empresa, nem que isso signifique a exploração da sua força de trabalho e da sua saúde física ou mental.

(Com a permissão da digressão, quando o capitalismo contemporâneo transforma cada um de nós em "senhores de nosso próprio trabalho" - e para isso o home office pensado por Steve Jobs, Bill Gates e cia. é imprescindível - tornamo-nos ao mesmo tempo, opressor e oprimido. Ver: Luc Boltanski; Eve Chiapello, O novo espírito do capitalismo, São Paulo: Martins Fontes, 2009.)

Esse tal de capitalismo é mostrado, no filme de Joshua Michael Stern, como uma espécie de jogo de gentlemen - cavalheiros, sim, mas altamente vingativos, uma espécie de "cova dos leões", da qual nosso herói sobrevive.

Jobs tenta reforçar a figura do mito. Não importam suas falhas morais, mas fazer dinheiro! (O único defeito verdadeiramente grave da nossa época, não ter dinheiro.) O filme serve também como manual (ou, para seguir a metáfora religiosa, como "bíblia" para os aspirantes a milionário): alguns trechos parecem aulas de marketing (a promessa que o produto deve criar na mente do consumidor); outros, aulas de administração (como investir mais e, a médio ou longo prazo, ter maiores rendimentos); outros, palestras motivacionais (nas quais abundam termos como "talento", "gênio", "mudar o mundo", o "futuro" etc.) Não espanta que passe a ser adotado em aulas de faculdades e em palestras motivacionais.

A cartela final do filme indica que a Apple tornou-se, em 2011, a empresa mais valiosa do mundo. O critério aqui é o dinheiro. Jobs é sobre um visionário messiânico, mas também sobre um capitalista impiedoso (além de misantropo). Nada que uma gorda soma de dinheiro não perdoe. Pode-se mesmo perdoar um filme recheado de clichês e de montagens constrangedoras. O crítico Micah Abrams resumiu esse sentimento de maneira perspicaz: se fosse o próprio Jobs a produzir sua cinebiografia, certamente os realizadores teriam sido demitidos antes do término das filmagens.

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