. blog de Fabio Camarneiro

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04 June 2010

whatever works (2009)


Um dos talentos de Woody Allen é disfarçar suas reflexões a respeito de arte e política sob as risadas da plateia. Alguns de seus primeiros filmes são tratados como legítmos herdeiros das comédias amalucadas dos anos 1930 e 1940 e, apesar de engraçados, acelerados, não possuiriam o estofo de alguns de seus trabalhos mais sérios.

Os comentários a respeito de Tudo pode dar certo, seu mais recente filme lançado no Brasil (seu filme seguinte, You will meet a tall dark stranger, foi exibido no Festival de Cannes em maio), tem girado em torno dessa capacidade de fazer rir. Uma espécie de retorno à década de 70, quando o roteiro foi escrito para Zero Mostel interpretar o papel principal.

Porém, apesar de se tratar de uma ideia com mais de 20 anos de idade, Tudo pode dar certo é um dos filmes mais atuais do diretor, esbanjando um otimismo (que para alguns pode parecer ingênuo) que parece nascer da eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA.

O subtexto político aparece de maneira explícita em uma sequência quando os personagens visitam o museu de cera, a primeira estátua a ser vista é a de George W. Bush, marcando que o presidente texano agora é parte do passado, um boneco que não tem mais ação no cenário político.

A trama central do filme também trata de outros sulistas, conterrâneos de Bush (e possivelmente também seus eleitores) que, uma vez em Nova York, tem suas visões de mundo ampliadas para novas possibilidades de existência no sexo, na arte, no amor...

Allen, o nova-iorquino por excelência, vê e mede o mundo a partir de Manhattan. Mas, ao invés de impor uma visão de mundo teoricamente "moderna" sobre outra "careta", o diretor tenta mostrar que a lição de Nova York ao mundo é a da integração, do diálogo, do convívio com as diferenças. Não é pouca coisa em um filme que aparenta ser, no máximo, apenas deliciosamente engraçado.

Aqui, texto de Inácio Araújo sobre o filme.

Aqui, texto de Fábio Andrade, na Cinética.

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