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18 June 2013

. movimento passe livre


Pergunta: o retrovisor não é um blog de cinema?

Resposta: há algo nas telas de cinema mais cinematográfico que a imagem acima?

Cinema são imagens organizadas a partir de concepções estéticas e políticas. Os manifestantes que projetavam suas sombras na cúpula do congresso nacional, em Brasília, criaram uma imagem muito potente a respeito de outras "sombras" que se projetam sobre nossa democracia e que, secretamente, comandam as ações de nossos representantes legislativos. A tentativa da população de, mesmo que apenas simbolicamente, recuperar a "casa do povo" é sintomática de um estado de revolta e indignação, de um desânimo causado por anos de atrasos em obras de infraestrutura e em serviços públicos essenciais como saúde, educação, habitação etc.

A indignação é justa, justíssima.

Mas a reivindicação deve ser sempre (re)lembrada, com o risco de toda essa manifestação ser apenas um grito de revolta a se perder, uma espécie de catarse coletiva que precede a volta à rotina de sempre, sem que nada saia do lugar.

A luta é por 20 centavos. Pela revogação do aumento do preço da passagem no transporte coletivo em São Paulo e pela revisão no preço da passagem em outras cidades brasileiras. Essa é a nossa bandeira. Toda a indignação deve servir, ao menos nesse momento específico, para apoiar esta demanda.

Alguns podem achar que 20 centavos é muito pouco. E a educação? E a saúde? E os índios, diuturnamente massacrados, sem que ninguém preste atenção? E a habitação? E o saneamento básico? E a péssima distribuição de renda? E a política econômica? E as reformas política e tributária?

Claro que tudo isso é importante. Mas a questão aqui é outra. São 20 centavos no preço da passagem. Isso mesmo, trata-se "apenas" de 20 centavos.

Parece pouco? Muito barulho por nada? Não é verdade. Trata-se do governo voltar atrás em uma decisão por conta de manifestações populares. Trata-se de fortalecer e legitimar as manifestações populares Brasil afora, mas sempre com pautas definidas!

Trata-se de, finalmente, sermos ouvidos e termos poder de alterar decisões tomadas por nossos representantes, a princípio em nosso próprio interesse.

Esses governantes (me refiro a todas as esferas, executivas e legislativas, federais, estaduais e municipais, em todo o território nacional), não são gerentes de orçamento. São pessoas eleitas pelo voto direto para defender os interesses da maioria da população.

Os protestos são legítimos! A indignação é legítima! Mas a manifestação precisa ter uma demanda clara, sob o risco de ser confundida com uma série de demandas pautadas por outrem...

Alguém se lembra, não faz muito tempo, de algumas ruas tomadas, com pessoas muito barulhentas e animadas, pedindo que se retirasse um certo sujeito da presidência da comissão de direitos humanos da mesma câmara que serviu de cenário para a foto acima? Alguém se lembra quando esse sujeito efetivamente deixou o cargo? Sim, ele NÃO deixou o cargo e segue atuando na comissão, talvez até muito mais tranquilo por ter sido "esquecido" nas últimas manifestações.

A pauta é imensa, os problemas são vários. Mas, quanto mais generalizada for a pauta (como parecem querer os grandes veículos de comunicação de massa), mais fracas politicamente serão as manifestações. Serão fortes como eventos em si, mas fracos como política, como possibilidade de efetiva mudança.

Se a gente está criando um terremoto, que aprenda também a controlá-lo a nosso favor. Ou daqui a pouco todo mundo cai no mesmo abismo da mera insatisfação, sabe-se lá contra o quê ou contra quem.

Não estou feliz com o governo federal, estadual ou municipal... Não estou feliz com a situação da educação, da saúde, da habitação, com a questão indígena, com a divisão de renda. Mas quero sentar com os governantes e conseguir a redução de 20 centavos na tarifa de transporte coletivo em São Paulo. Se a porta for aberta, e a demanda for atendida, creio ser a hora de passar a "outras questões": a abertura das planilhas de gastos de transporte coletivo para análise da população etc.

E, quando o povo aprender que nossas demandas podem ser atendidas, vamos mudar esse país ponto por ponto, junto aos governantes (sejam eles de que partido forem), numa aliança nova: o povo e os políticos, contra as demandas do acúmulo de capital.

Recomendo a leitura de alguns textos na Internet:

Café com nata
Ei, reaça, vaza dessa marcha!

Diário do Centro do Mundo
Não podemos nos alinhar aos Datenas, Jabores e Pondés

Texto de setembro de 2011, de autoria do querido amigo André Bertolucci, no Nota de Rodapé
Marchemos por liberdade e não por mais controle

Site do Movimento Passe Livre

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