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05 March 2010

le temps qu'il reste (2009)

O cinema de Elia Suleiman lembra Buster Keaton e Jacques Tati. Dois comediantes: o primeiro, conhecido pela expressão facial inalterada, pela inventividade do uso da câmera, pela invejável qualidade de sua pantomima. O segundo, responsável pelo uso muito inventivo do som em seus filmes e criador do M. Hulot, personagem sempre em desacordo o mundo contemporâneo.


Suleiman, um israelense de origem palestina, sabe muito bem o que é estar em desacordo com o mundo. Sua expressão sempre inalterada retrata, ao mesmo tempo, perplexidade e um certo "tédio", a expressão de conformação face à certeza de que nada vai mudar...

O tempo que resta retrata algumas décadas da história de uma família em meio ao conflito entre Israel e Palestina. Em determinado momento, os ideais do pai militante tornam-se anacrônicos. O movimento presente no início do filme (tropas, soldados, fugas) é substituído por um estado de coisas tão estático quanto o rosto de Buster Keaton: o vizinho que sempre tenta o suicídio, o aluno que sempre leva advertências, a decoração da sala de estar da casa etc.

A guerra é algo absurdo: o vai e vem de um soldado aparentemente perdido, buscando as tropas; as pequenas e comezinhas brigas entre vizinhos (metáforas dos dois povos).

Com humor e delicadeza, Suleiman retrata o conflito no Oriente Médio como uma cena sempre repetida, um círculo vicioso. Para reforçar essa ideia, o filme trabalha com variações sobre o mesmo tema. As cenas parecem se repetir, com pequenas mudanças. Retrato de uma guerra que dura gerações, e muitas pessoas passaram a entender como algo cotidiano e, até certo ponto, banal.

O riso provocado por O tempo que resta tenta recuperar o absurdo (e o horror) da guerra. Nesse sentido, é um riso tão crítico quanto o de Keaton ou o de Tati.

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