Indignação.
90% das obras de Hélio Oiticica destruídas em um incêndio.
Guardadas as proporções, é como se varressem do mapa o museu Van Gogh em Amsterdan. Ou o museu Picasso em Paris.
A diferença é que as obras de Oiticica não estavam em um museu, mas na casa do irmão do artista.
Uma simples pergunta: por que ainda não tínhamos um museu Hélio Oiticica, um dos maiores artistas plásticos da história do país? Sei que respostas haverão muitas, mas nenhuma verdadeiramente satisfatória.
Seguindo raciocínio semelhante, por que Rio 40 graus ou O grande momento nunca saíram em DVD? É como se, novamente guardadas as proporções, Casablanca nunca tivesse sido lançado comercialmente em DVD.
A indignação não é apenas pela obra de Oiticica, perda irreparável, mas pela maneira que as autoridades e o empresariado brasileiros lidam com a cultura.
Arte se transformou em marketing. A ideia de um museu Hélio Oiticica (autor da polêmica frase "seja marginal, seja heroi") talvez não pareça interessante para os administradores de nossas empresas...
Para piorar, o noticiário insiste em dizer o "valor estimado" do que foi destruído pelo fogo: falam em 200 milhões de dólares. Insistem em reclamar que as obras "não tinham seguro". Como se a perda pudesse ser medida em cifras.
Trata-se de outra coisa. Daqui a 500 anos, talvez ninguém lembre qual era a moeda vigente hoje em dia, mas se poderia conhecer muito a respeito da nossa época a partir da obra de Oiticica.
Agora, isso será impossível. Pelo menos a partir da obra material, porque os conceitos do artista continuarão por aí, além de seu acervo digitalizado na página do Projeto Hélio Oiticica.
A culpa é de ninguém e é de todo mundo. Foi uma fatalidade, mas uma fatalidade que demonstra como o patrimônio cultural é tratado sempre de maneira improvisada pelos governos.
Oiticica é muito maior que toda essa mesquinharia. A perda de grande parte de sua obra é irreparável, assim como (pela última vez, guardadas as devidas proporções) todas as cinematecas incendiadas, as obras destruídas pelos nazistas durante a Segunda Guerra e tantas outras perdas.
O problema são as tais "devidas proporções". Pensamos a cultura brasileira como algo proporcionalmente menor. Uma mostra Picasso (ou qualquer outro grande artista internacional) facilmente consegue patrocínio de uma grande empresa via Lei Rouanet, mas a construção e manutenção de um museu para abrigar o acervo de um artista brasileiro, não.
Triste. Triste.
Aqui, uma exposição na Tate Modern, de Londres.
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Post Scriptum
O amigo Fábio Andrade avisa de uma página muito esclarecedora sobre as pendengas entre a família Oiticica e o poder público, no blog Pitadinhas, de Daniela Name.
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17 October 2009
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4 comments:
Já existe o Centro Cultural Hélio Oiticica, no Rio, e alguns dos motivos por as obras não estarem lá foram apontados neste texto - http://daniname.wordpress.com/2009/10/17/obra-de-arte-nao-e-foto-de-familia/
Dá uma lida, esclarece alguns pontos.
Abraço!
Fábio, valeu pela dica. Coloquei o link ao final do texto. Realmente esclarecedor.
De qualquer forma, é impressionante como o Estado só consegue cuidar da arte quando em parceria com instituições privadas (que tem seus próprios interesses nessa história toda).
Um abração
eu me sinto envergonhada, humilhada profundamente ofendida como a cultura é tratada nesse pais.
nao me conformo.
Fabinho, que saudades, sumido! Seu blog está cada vez melhor e vc sempre surpreendente. Me conta como está a mostra? Estou chegando aí para irmos passear na Augusta e assistirmos filmes bacanas juntinhos. Um grande abraço e continue postando. Bia
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