. blog de Fabio Camarneiro

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03 February 2010

les herbes folles (2009)

Com certo atraso, um comentário a respeito de Ervas daninhas.


O filme de Resnais surpreende pela liberdade narrativa: quando se imagina que a trama vai para um lado, vai para o outro. Quando se espera que um personagem vai fazer uma coisa, faz outra, completamente diferente. Óbvio que esse jogo (enganar o espectador) sempre fez parte dos truques da dramaturgia. Mas, em Ervas daninhas, é como se o próprio Resnais surpreendesse a si mesmo a cada reviravolta da trama. Como se os personagens tivessem prioridade sobre o cineasta.

Nas primeiras cenas - sobre o furto de uma bolsa -, uma voz off narra os acontecimentos, volta atrás, reformula, reconstrói a história contada. Há algo de hesitante nesse narrador, que parece preferir a reescrita à escrita; o recomeçar ao finalizar. Da mesma maneira, Ervas daninhas não parece caminhar para um fim, mas para uma série de recomeços (o que lembra o díptico Smoking / No smoking, filmes em que a trama se abre em vários finais possíveis).

Os personagens de Resnais, ao invés de se revelarem, ficam mais misteriosos e contraditórios. A trama, ao invés de se esclarecer, parece se dobrar sobre si mesma. Ao público resta alguma perplexidade, mas também um imenso encantamento. (Interessante notar que também os personagens dos policiais ficam perplexos face aos acontecimentos da história. Talvez exista aqui uma relação secreta entre o público e os policiais, que sempre exigem fatos, um encadeamento lógico, um veredicto.)

Resnais não nos oferece nada disso. Pelo contrário, nos traz um filme que caminha, cena atrás de cena, como um cadáver elegante (ou "cadavre exquis", a brincadeira surrealista). Ervas daninhas é irreverente e vigoroso, além de trazer uma respiração nova, um frescor, uma surpresa.

Talvez, com o tempo, o filme passe a ser visto menos pela estranheza que pode causar e mais pela beleza de sua inventividade.

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