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22 September 2009

anticristo

Anticristo parece provocar reações radicais.


Diálogo moderno com a ideia da bruxaria, retrato misógino de um casal em crise, melodrama barato, imagens extremas de sexo e tortura (com uma rápida cena de auto-mutilação): o filme de Lars von Trier é tudo isso e, ao mesmo tempo, não é nada disso.

Elencar esses elementos não ajuda a entender melhor Anticristo. E o debate sobre o filme parece muito mais preocupado com temas paralelos, um anedotário das declarações do diretor. Desde o Dogma 95, von Trier sabe atrair atenção para seus trabalhos: algumas entrevistas bombásticas e a reafirmação de uma persona "extravagante" bastam para a imprensa especializada se por alvoroçada.

Sobre o filme em si, o prólogo e o epílogo são asfixiantes: "bonitos" demais em sua câmera lenta, no preto e branco em alto contraste, na música de Haendel... Tudo provocando ao mesmo tempo atração e repulsa, como se os excessos barrocos e o spot publicitário se encontrassem.

Entre prólogo e epílogo (ou seja, em praticamente todo o filme) von Trier conta com dois grandes atores (Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg) que carregam Anticristo nas costas. Durante a primeira metade do filme, enquanto ambos estão imersos em seus personagens, o filme parece o estudo de uma relação em crise, à la Ingmar Bergman. Depois, nas sequências da mata, tudo se transforma em alegoria e a mise-en-scène do diretor pouco diz, pouco revela, pouco questiona, pouco provoca.

Na última parte, os choques de agressividade acontecem com força, mas de maneira um tanto deslocada, fora do lugar. Um Cannibal holocausto (Ruggero Deodato) ou um Audition (Takashi Miike) chocam muito mais porque colocam a violência no coração de seus enredos, no cerne da experiência de seus personagens. Em Anticristo, tudo parece um acidente, como se uma serra elétrica invadisse um programa de televisão sobre pais que perderam seus filhos.

Talvez seja apenas uma piada de humor negro, lembrando o episódio que von Trier dirigiu para Cada um com seu cinema. Mas o viés misógino de Anticristo transforma tudo (mesmo involuntariamente) em uma piada de mau gosto.

Esse "humor" talvez fosse uma tentativa de um "distanciamento" do espectador - prática tomada emprestada do teatro épico de Brecht e usada com grande efeito em Dogville e Manderley. Mas o tiro sai pela culatra e, ao invés de reflexão, temos apenas o tédio e a reafirmação de preconceitos contra a mulher.

Anticristo parece ser, antes de um filme, uma polêmica. Talvez o grande motivo para vê-lo seja poder escolher uma posição nos acalorados debates dos cinéfilos pelos botequins da cidade.

Aqui, o texto de Fábio Andrade, na Cinética.

Abaixo, o trailer.


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3 comments:

Luciana Lindemann said...

Foi isso mesmo?..até agora não digerí...bjs Lu

Flor de Bela Alma said...

oiiiiiiiii cheguei...

Khryz said...

Ainda não sei bem diferenciar a abordagem misógena do Lars von Trier de uma abordagem simplesmente misantrópica... Tudo, sempre, acaba tão mal para os personagens dele que resta sempre um sentimento de melancolia e desepero para com tudo que é humano (ou da, também tão referida por ele, 'natureza humana'...)

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