O que Carlão Reichenbach faz pela divulgação do cinema em São Paulo não é pouco. As sessões do Comodoro – toda primeira quarta-feira do mês, no Cinesesc – são um oásis em meio às opções cada vez mais padronizadas das salas de exibição.
Nesta quarta-feira, exibiu-se 200 motels, de Frank Zappa e Tony Palmer.
O que dizer do filme? Uma completa insanidade (no melhor sentido), feito inteiramente em vídeo, gravado em uma semana e montado em onze dias, 200 motels tem a genialidade e a ironia de Zappa. Quem mais lançaria mão de complexos arranjos orquestrais para falar de um bando de idiotas (o grupo de Zappa, o Mothers of Invention) correndo atrás de sexo, dinheiro e fama?
Ninguém escapa ao sarcasmo. Das groupies às freiras, dos caipiras red necks aos astros do rock, dos fãs de música aos espectadores do filme, a América é uma terra de completos imbecis. Zappa e Tony Palmer fazem coro a Rogério Sganzerla: quando a idiotice reina, o jeito é avacalhar.
E avacalhação não falta em 200 motels: nas texturas inusitadas das imagens em vídeo, na montagem alucinada, em interpretações "improvisadas" e impagáveis (Ringo Starr como Zappa, Keith Moon, do The Who, como uma freira), no absurdo das situações.
Todos os excessos associados aos anos 1960 e a Zappa (talvez o guitarrista mais barroco da história do rock) estão aqui: drogas, psicodelismo, liberdade sexual, nonsense, rock and roll, bad trips, egocentrismo, cartum, orquestras sinfônicas e muita acidez (lisérgica). Tudo misturado num mesmo caldeirão, pouco recomendável para paladares mais delicados.
A sessão foi completada pelo curta-metragem Minami em close-up: a Boca em revista, de Thiago Mendonça. Carinhosa, divertida, irônica e contundente memória da Boca do Lixo, a partir de Minami Keizi, criador da revista Cinema em close-up.
Notável aproximação: o cinema da Boca e 200 motels são urgentes, imperfeitos, anárquicos, despudorados e irreverentes.
Parabéns, Thiago! Ave, Zappa! Obrigado, Carlão!
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